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MARIA DE LOURDES SANTOS CUSTÓDIO

( Brasil – São Paulo )

 

Nasceu em 6 de dezembro de 1926, em Pitangueiras, SP.

 

 

CADERNO DE POESIA - II.  Santo André, SP: Clube de Poesia de S. André, 1954.   90 p.     15,5 X 22,5 cm.         Ex. bibl. Antonio Miranda.  

 

                Penitência

Relâmpagos luzentes, tempestade
Fortes, ribombos de trovões seguidos
Cortavam o ar, com gritos e gemidos,
              Num furor repassado de maldade.

Do trovejar, soavam aos meus ouvidos,
Ecos de dor.  Sentindo a realidade
De uma vez em que agi com crueldade,
Ouvia tudo em sons bem distinguidos.

Sempre que há tempestade, aquela cena
Acode-me à memória e me condena
A lamentar uma esperança morta.

Pois, eu sinto na dor da nostalgia,
Por negar-te o perdão naquele dia,
Que jamais baterás à minha porta.


O encanto de viver

A noite misteriosa, lentamente
Rasgando vai a negra escuridão,
Minuto por minuto, em minha mente,
Bate o relógio da imaginação.

Na quietude mortal, com voz dolente,
Tomada de febril excitação,
Tentei cantar o meu amor ardente,
Num poema todo feito de emoção.

Desse meu belo cantão de ventura
Restou somente o travo da amargura,
Pois que a noite não quer me compreender.

Compreende, ao menos, tu, ó luz do dia!
De amar, sente comigo, esta alegria,
Comigo, sente o encanto de viver!...


O lázaro

Na placidez noturna do repouso,
Aonde é morte o valor real da hora,
Apenas foi um sonho o que foi gozo,
                Naquele leito aonde a lepra mora,

O amanhã da vítima é monstruoso,
Repugnante a vida lhe é agora.
Que lhe valeu o espírito virtuoso,
Que antes espalhou ao mundo afora?

Cadáver ambulante, governado
Pelo espírito aquele corpo informe
Aos poucos vai tombando exterminado.

Fraquérrima é a carne e grande é a fome,
Tão grande que o banquete iniciado,
A carne sua própria carne come.

 

*

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Página publicada em novembro de 2022


 

 

 
 
 
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